Do que você escolhe para comer no café da manhã a planejar o futuro, tudo passa pela memória. Além de ser parte importante do nosso processo de tomada de decisão, ela também, de certa maneira, define quem somos. Você sabe como funciona a memória?
Em uma série produzida pela Wired, a neurocientista Daphna Shohamy explica o seu funcionamento — e como ela é criada — para pessoas com cinco níveis diferentes de entendimento e conhecimento: uma criança, um adolescente, uma universitária, um pós-graduado e um especialista.
Abaixo você confere alguns dos conceitos sobre memória explicados pela neurocientista.
O que é a memória e como ela é criada
A nossa memória é um registro guardado no nosso cérebro de algo que aconteceu no passado. Mas esse registro não é perfeito. Nem sempre a memória guarda um registro fiel do que aconteceu.
Quem escreve esta matéria tem na memória cenas de um aniversário do quinto ano de vida. Ele é capaz de lembrar de alguns detalhes do bolo, mas da festa em si, pouquíssimas coisas. “A memória guarda coisas divertidas e outras que são importantes. Mas outras coisas menos interessantes e excitantes, seu cérebro meio que deixa para lá todas essas informações”, diz Shohamy no vídeo.
As memórias, explica a neurocientista, ficam guardadas no hipocampo, uma pequena parte do cérebro, responsável por criar esses tipos de memórias (como a memória compartilhada por este redator de um evento de mais de três décadas).
Outra parte importante do cérebro nesse processo de criação de memória é a amígdala. “Ela é importante para fazer o processo emocional para a memória”, explica Shohamy. Por exemplo, para memórias assustadoras, é a amigdala quem faz o “aviso” ao hipocampo para se lembrar de que determinada coisa não é tão legal e deve ser evitada.
LEIA TAMBÉM: 5 estratégias para ter um cérebro mais saudável
A memória não é só para lembrar do passado
Quando falamos a palavra memória, é comum associarmos a lembranças, ao que já aconteceu. Justamente por trazer esse aprendizado do passado é que a memória é um elemento importante para ajudar a tomar uma decisão num momento futuro.
“Quando as pessoas precisam tomar uma decisão entre duas coisas de que gostam igualmente, há quem ache fácil. Mas sabemos que não é. É nesse tipo de escolha que a memória é importante, porque você precisa ter mais informações para se decidir”, explica Shohamy.
Como será que vou me sentir ao escolher entre duas coisas de que gosto? Será que esta será a escolha certa? E se eu resolver escolher a outra coisa? Todos esses questionamentos que podem acontecer num processo de decisão mostram como a memória atua para prever o que vai acontecer no futuro para que você consiga tomar uma decisão no presente.
E, como as memórias mudam ao longo do tempo, a maneira como tomamos decisões também seguem essa “evolução”. “Na adolescência, por exemplo, o cérebro gosta de recompensas, o que pode acabar exercendo um controle sobre as decisões que tomamos e as memórias que criamos”, explica a neurocientista.
VOCÊ PODE SE INTERESSAR POR: O hábito de fazer listas e seus benefícios para a saúde mental
Memória como força dominante
A pesquisa conduzida por Shohamy busca entender como diferentes tipos de memórias são organizados em diferentes estruturas do cérebro e como todas elas trabalham juntas para que a gente tenha comportamentos cognitivos tão complexos como pensar, raciocinar e tomar uma decisão.
“Estamos interessados na ideia de que a memória é uma espécie de força dominante que molda todos os nossos comportamentos.”
Ou seja, o que a neurocientista pretende mostrar/descobrir é como os diferentes tipos de memória funcionam juntos e não de maneira isolada. “O desenvolvimento de novas ferramentas para estudar a mente e o cérebro nos permitiu ajustar a visão de sistemas de memórias. Tentamos entender como eles funcionam em conjunto para dar origem a todos os tipos de comportamentos que podem não se encaixar perfeitamente em um tipo de memória ou outro”, disse.