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Sete mitos (e uma meia-verdade) sobre o cérebro

Você sabia que o cortisol não é só o hormônio do estresse? Neurocientista mostra algumas afirmações sobre o cérebro que, no fim, não são verdadeiras.

Sete mitos (e uma meia-verdade) sobre o cérebro

Por muito tempo não se sabia muito bem o que o cérebro estava fazendo ali, no topo da nossa estrutura, e muito menos a sua importância. A verdade é que só com o avanço da tecnologia foi possível entender melhor algumas partes do órgão que não podem ser observadas a olho nu.

Mas, apesar dos muitos avanços, algumas crenças em relação ao órgão que comanda todo o funcionamento do nosso corpo permaneceram. A BBC convidou a neurocientista Lisa Feldman Barrett, autora do livro Seven and a Half Lessons About the Brain (“Sete lições e meia sobre o cérebro”, em tradução livre), para desmistificar algumas dessas afirmações a respeito dessa parte do organismo tão importante.

Mito 1: Desperdiçamos neurônios 

Nas palavras da neurologista: “Isso é um absurdo e não faz o menor sentido”. Segundo Barrett, usamos o cérebro o tempo todo e não apenas um neurônio, mas milhões e milhões a cada momento. Além do mais, se isso fosse verdade, seria um baita desperdício energético, uma vez que o órgão é responsável por cerca de 20% do gasto metabólico diário.

Mito 2: Olhos, nariz, ouvido, pele e língua são responsáveis pelos sentidos 

Na verdade, eles levam a informação para o cérebro. Tudo o que a gente sente é, nada mais, nada menos, que interpretações desse órgão. Os sinais captados por nossos receptores — olho, ouvido, pelo, língua e nariz — só ganham um real sentido quando o cérebro os processa.

“É difícil entender, mas você não sente nada no corpo. Tudo o que você sente está no cérebro”, explica Barrett. Sim, quando o coração bate mais rápido, é porque o cérebro, esse grande narrador, assim determinou.

Mito 3: Todos têm uma “besta interior” 

Em 1970, o neurocientista norte-americano Paul McLean apresentou a teoria do cérebro trino, que dividia o órgão em três partes: neocórtex (responsável pelas funções mais sofisticadas), complexo reptiliano (que controla o comportamento e o pensamento instintivo para sobrevivência) e o sistema límbico (que regula as emoções, a memória e as relações sociais).

“Por anos, os cientistas pensaram que a parte reptiliana era o lar da ‘besta interior’ que tinha de ser controlada pela razão”, diz a neurocientista. Por essa hipótese, quando a racionalidade vence, a pessoa é virtuosa e saudável. Quando acontece o contrário, é imoral ou está doente.

“Toda essa narrativa é um mito completo”, diz ela. “As regiões marcadas como sua ‘besta interior’ são aquelas que controlam seu corpo físico inteiro. Essas regiões estão envolvidas em praticamente tudo o que o cérebro faz”, justifica.

Mito 4: O lado esquerdo do cérebro é lógico e o direito, criativo 

Nenhuma parte do cérebro, diz Barrett, se dedica apenas a uma tarefa artística ou um raciocínio matemático. “Quase todas as ações que você realiza e todas as experiências que você tem são realizadas por neurônios distribuídos por todo o cérebro”, explica.

Mito 5: Cortisol é hormônio do estresse e a serotonina, da felicidade 

É verdade que o cortisol pode ser liberado durante episódios de estresse. Essa molécula é responsável por aumentar a quantidade de glicose na corrente sanguínea para fornecer energia para as células quando o cérebro assim entende que precisa ser feito. Mas isso acontece, por exemplo, antes de nos exercitarmos ou simplesmente para sair da cama. Portanto, defende a especialista, o cortisol não é um hormônio do estresse.

“Nenhum hormônio tem apenas um propósito psicológico específico (que conheçamos). Todas as substâncias químicas que ajudam a criar sua mente funcionam em conjunto”, escreveu.

A serotonina é muito mais do que o hormônio da felicidade. A molécula regula a quantidade de gordura produzida e ainda ajuda a controlar a energia que você gasta e ganha. Se você é curioso e gosta de explorar — ou seja, gasta energia sem uma recompensa estabelecida —, agradeça a esse hormônio.

Mito 6: O cérebro reage ao mundo 

Essa é um passo depois do mito 2. Os nossos neurônios não são reativos. O que a neurologista explica é que o cérebro tenta sempre adivinhar o que pode acontecer assim que seus receptores captam algo. “Essas suposições são as sementes que dão origem às ações e experiências”, explica. A informação que chega até ele pode confirmar essa previsão ou então ajustá-la. Esse ajuste é o que chamamos de aprendizado. Só que é tão rápido que o que você sente é que está reagindo a algo.

Mito 7: O cérebro armazena memória 

Ele mais “monta” do que guarda uma memória. “Seu cérebro reconstrói suas memórias com eletricidade e substâncias químicas”, explica a especialista. Cada vez que a memória é montada, ela pode usar como “tijolos” alguns neurônios diferentes. Além disso, pode ser influenciada por uma situação de momento.

Mito 7 e 1/2: temos neurônios limitados 

Segundo a especialista, os humanos perderam a capacidade de regenerar os neurônios. Porém não em toda a sua estrutura. O hipocampo — parte do cérebro associada à memória, ao aprendizado e às emoções — é um dos locais em que ocorre a criação de neurônios.  “Alguns cientistas se perguntam se esse é o preço que pagamos por ter uma vida longa, que requer uma memória confiável”, explica Barrett.

 

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