Z7_MPD81G80POKE40Q6UH34NG3002

Como parar de fumar: 5 mitos que podem estar te atrapalhando

Parar de fumar pode ser ainda mais difícil se você apostar em estratégias erradas. Conheça os “achismos” mais comuns, listados por especialistas no assunto.

Como parar de fumar: 5 mitos que podem estar te atrapalhando

Ter mais saúde, economizar dinheiro, não prejudicar o bem-estar de quem está ao redor, dar um bom exemplo para os filhos. Muita gente tem as razões certas para parar de fumar, mas acaba tomando decisões erradas que podem colocar todo o esforço a perder.

A primeira delas é desprezar o tamanho do esforço que deve ser feito para deixar o cigarro. “Não é uma questão de tomar vergonha na cara, como ouço muita gente dizer. As pessoas precisam se conscientizar de que o cigarro causa dependência”, afirma o médico João Paulo Lotufo, médico-assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo e membro da Comissão de Drogas Lícitas e Ilícitas do Conselho Federal de Medicina.

A nicotina é considerada uma droga por ter propriedades psicoativas, aponta o Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Cerca de dez segundos depois de cada tragada, ela já está fazendo efeito no cérebro, onde estimula a produção de substâncias que dão prazer, como a serotonina e a dopamina. Sem nicotina, vem a abstinência, que é melhor combatida com ajuda profissional.

Se a ideia é melhorar a saúde, outra tática equivocada é a de reduzir a quantidade em vez de parar. Quem fuma de um a cinco cigarros diários já tem um risco bem maior de desenvolver uma doença cardíaca ou de ter um acidente vascular cerebral (AVC) do que os não fumantes, alerta uma revisão de estudos feita em 2018.

“O que realmente funciona no controle do tabagismo, segundo as evidências que temos, não é reduzir o cigarro, e sim escolher um dia específico e parar completamente de fumar”, alerta Renata Brasil Araujo, presidente da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas (Abead).

  • 1 em cada 2 fumantes morrem devido a doenças relacionadas ao tabagismo.

  • 69 delas são reconhecidamente cancerígenas.

  • 7 mil substâncias são criadas quando se acende um cigarro.

Essa atitude aparentemente impulsiva, na verdade, tem que ser muito bem-planejada e apoiada com tratamentos como reposição de nicotina, e sessões de terapia cognitiva-comportamental e com uso de medicação específica — a gente listou aqui essas e outras dicas que dão certo.

Quem recorre a terapia e remédios mais do que dobra sua chance de parar de vez, aponta a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, o tratamento para parar de fumar é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em suas unidades de atendimento ou em centros específicos de controle do tabagismo.

Ao abraçar a ideia de entrar para o time dos não-fumantes, portanto, o melhor é buscar ajuda profissional e evitar alguns “achismos” que, segundo os especialistas consultados pelo Viva a Longevidade, acabam atrapalhando o processo. Confira a seguir quais são eles e evite essas armadilhas.

“Não preciso parar. Fumar menos já melhora.”

“Não existe nível seguro de consumo de cigarro”, crava, de saída, José Roberto de Brito Jardim, do Núcleo de Prevenção e Cessação do Tabagismo — PrevFumo, ligado à disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Só um por dia já prejudica a saúde.

Fumar cinco cigarros por dia causa tanto mal aos pulmões quanto fumar 30 — e quem fuma pouco leva cerca de um ano para prejudicar o pulmão no mesmo nível de quem fuma pesadamente por nove meses, aponta um estudo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

Além disso, a tática de fumar menos pode não funcionar por muito tempo. “Existe uma boa chance de essa pessoa voltar a fumar mais depois de um certo período, pois a dependência não é interrompida”, aponta Araujo.

“Vou fumar cigarros artesanais, que são mais saudáveis.”

Os cigarros enrolados à mão são feitos com tabaco, ou seja, também fornecem nicotina, mas em quantidade maior do que os industrializados (e contêm mais alcatrão também). “Eles não possuem um filtro eficiente, por isso podem ser até mais nocivos”, afirma Lotufo. “Não existe cigarro que não faz mal para a saúde.”

Além disso, o ritual de enrolar o cigarro, que é relaxante, pode acabar sendo um empecilho para deixar de fumar, pois vira um hábito prazeroso. “O cigarro artesanal não é algo que vá ajudar uma pessoa a parar de fumar”, completa Araujo. 

“Vou usar o cigarro eletrônico para parar.”

Além da sua venda ser proibida no Brasil, de nada adianta trocar o cigarro tradicional pelo eletrônico e pelos vaporizadores abastecidos com nicotina, pois é ela que causa dependência.

Alguns modelos aquecem o tabaco para fornecer a nicotina ao fumante; outros usam um líquido que pode ou não conter nicotina — se contiver, o vício vai continuar. Mas a versão eletrônica não é tão inócua quanto se pensa. “As substâncias usadas para vaporizar nicotina estão causando graves problemas pulmonares nos Estados Unidos”, alerta Jardim.

Por fim, mesmo os líquidos sem nicotina podem conter micropartículas e sabores que fazem mal ao pulmão, além de substâncias cancerígenas, aponta o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos).

“Até parar, vou só filar um dos outros.”

Parar de comprar maços e filar o cigarro dos outros de vez em quando efetivamente reduz o consumo de cigarros e pode até ser uma estratégia para se preparar para parar com assistência profissional. O problema é que, sem disciplina, fumar um cigarro por dia apenas adia o intento, pois mantém a dependência em nicotina.

“Você segue obtendo a nicotina, que é a substância psicoativa do tabaco, e não se desintoxica dela. A dependência só se encerra parando totalmente de fumar. Assim o cérebro pode se desintoxicar e, com o tempo, diminuem os sintomas de abstinência”, explica Araujo.

“É só eu ter força de vontade que vai”

Superar a dependência química ou psicológica do cigarro não é uma questão de força de vontade, destaca Araujo. “É preciso ter uma estratégia de enfrentamento para atravessar a abstinência e para superar as ‘fissuras’, o que envolve uma combinação de terapia e de medicamentos.”

Z7_MPD81G80P0JIE0QLG5MKSBHBH1
Complementary Content
${loading}