No Dia Internacional da Mulher, o Viva a Longevidade faz uma homenagem – ou melhor, um agradecimento – para as mulheres brasileiras que foram destaque no combate à pandemia do novo coronavírus.
Neste texto, você vai saber um pouco mais sobre o que 12 mulheres fizeram, dentro de seus campos de atuação, para ajudar os brasileiros a enfrentarem uma situação tão atípica.
É um tributo a quem se expôs ao risco de contaminação para realizar o atendimento aos infectados, se mobilizou em nome da solidariedade e transformou os números frios da estatística em histórias que celebram a vida.
Vamos às histórias!
Jaqueline de Jesus e Ester Sabino
Em março de 2020, bem no início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, as pesquisadoras Jaqueline de Jesus e Ester Sabino conseguiram sequenciar o código genético do patógeno. E por que isso foi importante?
Em primeiro lugar, porque a análise foi publicada com uma rapidez surpreendente: apenas 48 horas depois do primeiro caso confirmado no país (outros países levaram algumas semanas).
Em segundo lugar, porque o sequenciamento genético é muito útil para a “cadeia científica”. Essa análise ajuda a entender o percurso da transmissão e o tempo em que um organismo fica presente em uma determinada região, como explica esta matéria do Nexo.
Esse tipo de informação ajuda, por exemplo, a elaborar e adotar medidas para conter a disseminação de um patógeno como o novo coronavírus. Além disso, os dados obtidos a partir do sequenciamento possibilitam o desenvolvimento de testes de diagnósticos e de vacinas.
Uma informação valiosa que agora, com o início da vacinação, estamos vendo materializada.
Ho Yeh Li
Você toparia ir para o epicentro de uma doença que está em seu estágio inicial — e, portanto, sem muitas informações? Uma médica infectologista topou.
No início de fevereiro, quando a COVID-19 estava longe do Brasil, Ho Yeh Li liderou o resgate de brasileiros que estavam em Wuhan, na China. Naquela época, a cidade chinesa concentrava boa parte dos casos.
“Lembro que comentei com os colegas mais próximos que estava indo para a China. Ninguém acreditava ou diziam que era uma loucura”, lembrou a médica, em entrevista à Veja Saúde.
A escolha de Li para liderar essa missão não foi por acaso, como mostrou o UOL. A delegação brasileira precisava de uma infectologista para compor o grupo que buscaria os brasileiros. E ninguém melhor do que quem já assessorava o Ministério da Saúde na contenção da febre amarela e, ainda, era fluente em mandarim (Li é taiwanesa naturalizada brasileira) para coordenar a operação.
A missão de Li foi um sucesso. De volta ao Brasil, ela e outras 56 pessoas envolvidas na operação ficaram isoladas em uma base militar em Anápolis (GO). Ninguém voltou para o país com o vírus no corpo.
Margareth Dalcolmo
Em dezembro de 2020, Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi eleita pelo jornal O Globo a mulher de 2020. Uma justa homenagem a quem desde o início está na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus.
No caso de Dalcolmo, quando falamos de “linha de frente do combate”, estamos nos referindo à sua atuação no tratamento de pessoas que foram infectadas pelo vírus; à coordenação de um estudo internacional que avalia o uso da vacina BCG para reduzir o impacto do novo coronavírus; e ao seu esforço e disponibilidade de ser uma das porta-vozes da ciência para munir a população de informação confiável sobre a pandemia.
A “doutora da Fiocruz” foi presença constante nos principais meios de comunicação do país, incluindo as redes sociais. Você, que lê este texto, certamente viu ou ouviu algo sobre essa incansável defensora da ciência e as ações de proteção que aprendemos desde o início da pandemia, como o uso de máscara e o distanciamento social.
“Depois da peste do século XIV, veio o Renascimento. Que sejamos capazes de um pequeno renascimento. Precisamos sair disso convencidos de que a ciência tem que servir para melhorar as relações humanas”, disse a pesquisadora ao O Globo.
Ana Paula Fernandes
Diagnóstico e vacina. Essa é uma dupla importante para o sucesso da erradicação de uma doença como a COVID-19. A bióloga Ana Paula Fernandes está à a frente de duas ações que buscam diminuir a dependência de insumos importados para a produção desses materiais.
Durante a pandemia, mostra uma matéria do UOL, Fernandes liderou a criação de um diagnóstico sorológico 100% brasileiro para o novo coronavírus. Agora, ela atua em outras duas frentes.
Em uma, pretende chegar a um teste brasileiro do tipo molecular, para elevar a nossa capacidade de testagem. A outra é o desenvolvimento de uma vacina nacional.
Fernandes é uma das coordenadoras do CT-Vacinas, sigla para Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais. A instituição lidera o desenvolvimento de um imunizante nacional.
Em fevereiro de 2021, à Agência Brasil, a bióloga disse acreditar que, no segundo semestre de 2021, o estudo entrará na da fase 3, com teste em humanos, e que, se tudo der certo, em 2022 teríamos a primeira vacina nacional.
“Esse processo vai ser, realmente, um marco histórico, que vai poder ser replicado para outros processos, para que o Brasil tenha independência nessa área estratégica”, disse a cientista.
Monica Calazans
A enfermeira Monica Calazans foi a primeira brasileira vacinada no país, no comecinho de 2021. Mas, claro, seu papel de destaque na atuação do combate ao coronavírus não se resume a esse momento histórico.
Calazans trabalha na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo (SP) – referência no tratamento dos infectados pelo novo coronavírus –, e na rede municipal de saúde, onde iniciou a sua carreira aos 47 anos de idade. Ou seja, ela presencia diariamente diferentes estágios da evolução da doença.
“Nunca tive medo, pois meu propósito é ajudar as pessoas. Fiquei muito triste por amigos meus terem morrido por causa da COVID-19, mas isso só alimentou mais minha vontade de continuar salvando vidas”, disse ao site da prefeitura de São Paulo.
Natalia Pasternak
Em 2018, a microbiologista bióloga Natalia Pasternak criou um instituto para defender o uso de evidências científicas na formulação de políticas públicas, uma ferramenta a favor da divulgação científica e contra a disseminação de notícias falsas. Dois anos depois e com uma pandemia em curso, a decisão por fazer esse movimento se mostrou não só acertada como necessária.
Natalia Pasternak foi (e ainda é) uma presença constante nos telejornais e nas redes sociais. Seja para simplificar a explicação sobre os resultados da eficácia de uma vacina, para “traduzir” estudos científicos, para combater as muitas fake news que se espalham por aí ou para lembrar que a COVID-19 é uma doença da sociedade e que, por isso, todos temos responsabilidades no combate.
“Que as pessoas entendam que não é questão de direitos individuais, porque entra na esfera da saúde pública. É uma questão de saúde coletiva, e a sociedade precisa estar curada. Nossas atitudes individuais colocam outras pessoas em risco”, disse a cientista em entrevista à revista Marie Claire.
No fim de 2020, foi eleita pela Isto É a brasileira do ano na área de ciências. No perfil da cientista, a revista reconheceu que Pasternak “se tornou uma referência nacional para a opinião pública quando o assunto é ciência (...) conseguindo decifrar as informações científicas e falar de forma clara e direta para leigos”.
Clarice Linhares, Luiza Serpa e Andrea Gomides
Nem só de ciência e cuidados médicos se faz um combate à pandemia. Em todo o país, foram realizadas diversas ações de solidariedade para tentar amenizar os impactos financeiros e sociais que vieram a reboque da doença. No Rio de Janeiro, três lideranças femininas se destacaram para enfrentar a COVID-19 e a desigualdade social, como mostrou a Agência Uva.
Usando o celular, a internet e suas redes de conexões, as empresárias Clarice Linhares, Luiza Serpa e Andrea Gomides rapidamente se mobilizaram para conseguir fazer chegar na ponta as doações de cestas básicas e produtos de limpeza para quem, de uma hora para outra, perdeu emprego e/ou renda.
Teresa Cristina
A live, a transmissão ao vivo de um evento, em vídeo, pelas redes sociais, foi a solução encontrada por muitos artistas da música para continuarem se apresentando para o público. Todo fim de semana, um artista (ou mais) se apresentava para trazer um pouco de entretenimento para quem seguia cumprindo a orientação de não se aglomerar.
A cantora Teresa Cristina foi a musa das lives durante os primeiros meses da pandemia, como bem definiu a revista Vogue.
As apresentações diárias que ela realizava – algumas delas ao lado da mãe, Hilda – eram divertidas, inclusivas, emocionantes e vistas por famosos e anônimos. Como escreveu o site Hypeness, “ninguém no país soube mais e melhor transformar as lives em um evento singular e próprio, interessante e artisticamente excitante como Teresa”.
As apresentações se caracterizaram pelo formato simples (Teresa cantava à capela), pela frequência (eram diárias) e pela interatividade com convidados e públicos. Era como se estivéssemos mesmo dentro de sua casa, participando de uma roda de conversa e música.
No início deste ano, foi reconhecida pela revista Forbes Brasil como um dos 20 nomes de destaque para 2021. “É um importante reconhecimento do trabalho árduo que venho fazendo durante todos esses anos de carreira e a certeza de que nós, mulheres, estamos cada vez mais ocupando o nosso espaço. Falta muito ainda, mas sinto que estamos no caminho certo. Sigamos”, escreveu a cantora em sua conta no Instagram (a sua nova “casa de shows”).
Alana Rizzo
Foram muitas as mulheres que contribuíram para que as notícias sobre a evolução da pandemia do novo coronavírus chegassem até os brasileiros de forma clara e precisa. Afinal, saber o que está acontecendo, como se proteger e o que nos espera são informações valiosas para a tomada de qualquer decisão.
Alana Rizzo foi uma dessas muitas vozes.
A jornalista é cofundadora do projeto Rede Cordiais, um projeto de educação midiática voltado para influenciadores digitais para trazer esses produtores de conteúdo para a luta contra o discurso de ódio e desinformação. Durante a pandemia, um projeto feito em parceria com a Agência Lupa resultou na distribuição de mais de 100 checagens de informação para que essas pessoas conseguissem rebater notícias falsas, danosas para a saúde pública.
Rizzo também foi uma das idealizadoras de um dos projetos mais sensíveis desta pandemia, o site Inumeráveis. O memorial virtual deu nome, cara e história às famílias brasileiras que foram vítimas do coronavírus no Brasil. O projeto que nasceu na internet ganhou o mundo off-line, aparecendo na TV e nos jornais.
“A ideia do projeto é contar as histórias. É um lugar de homenagem, de celebrar a vida das pessoas que a perderam para o coronavírus durante a pandemia” disse a jornalista em entrevista ao canal do YouTube Brasil, país digital.