É comum que se acredite que algumas escolhas importantes para a nossa vida — como a profissão, o relacionamento e saber o que nos dá prazer — aconteçam na juventude, mais tardar no início da vida adulta. Mas o que acontece se, com o passar dos anos, a gente se der conta de que não tem mais match com aquela rotina definida lá atrás, ou que aquela rota traçada aos 18, 20 anos já não faz mais sentido? Até quando seria tarde demais para mudar de vida e iniciar um novo capítulo?
A decisão de mudar a rota da vida para encontrar um (novo) sentido pode ser tomada a qualquer tempo, em qualquer idade. Mas, claro, não é algo fácil.
Em entrevista ao The Guardian, a coach Fiona Buckland explica que é preciso ter tempo e espaço para conseguir encontrar o caminho para realizar essa mudança. “Você não vai encontrar isso entre seus e-mails”, diz. A resposta está em uma autorreflexão.
Para isso, é preciso fazer perguntas. Segundo a especialista, mais vale pensar sobre seus valores do que nas respostas para perguntas como “o que mais me orgulho de ter feito”, “o que eu já fiz de melhor” ou “quando me sinto mais conectado”. Ela diz: “quando você vive a vida de acordo com seus valores, você se sente ‘alinhado’ com seu ‘código interno’. Uma coisa boa a se fazer é pensar sobre quando você realmente se sentiu vivo”.
A oportunidade de mudar não se fecha aos 25 anos, por exemplo. Como falamos, um segundo ato na vida profissional ou pessoal pode se iniciar a qualquer momento.
É preciso ter coragem e compaixão, diz Buckland, mas isso pode ser feito com passos frequentes e pequenos (ou seja, não é preciso uma mudança tão drástica de bate-pronto. O jornal britânico mostrou exemplos dessa mudança de atitude com as histórias de vida de alguns leitores. Elas são inspiradoras, confira a seguir.
De diretor de escola a compositor
Robert Campbell deixou a carreira de diretor de escola para ser músico durante a pandemia do novo coronavírus — e também por conta de um infarto aos 53 anos em 2019 (mesmo tendo uma boa saúde, segundo ele mesmo). Durante o isolamento, entre os encontros com alunos no Zoom, e com mais tempo livre, ele começou a aprender guitarra, até passar a compor suas próprias músicas e decidir mudar de vida. ““Eu não acho que a vida é ir para a escola, trabalhar 40 anos, depois se aposentar e esperar a morte. Essa ideia já era, felizmente”, disse à publicação.
De urbanista a diretora de escola
O caminho inverso foi feito por Maureen Brettell, que decidiu deixar sua carreira de urbanista para investir na de professora. “Um dia me vi no meio de duas pessoas discutindo sobre o local correto em que uma cerca deveria estar. Naquele momento senti que não estava fazendo nada para ajudar as pessoas do jeito que queria”, disse ao The Guardian. Hoje, ela se empenha como diretora de uma escola para jovens com necessidades sociais, emocionais ou de saúde mental. Seu conselho para realizar a mudança é não tomar essa decisão por impulso: “Pense bem, pondere os prós e os contras, faça sua pesquisa e converse com pessoas que tenham passado por uma experiência semelhante”.
Realizando um sonho de criança
Alison Webster resolveu, após seus 40 anos, realizar seu sonho de criança e estudar medicina. Até então ela trabalhava na indústria da música e, depois de uma crise no ramo de trabalho, começou a se questionar sobre o que iria fazer na segunda metade da vida.. “Provavelmente teria mais 20 anos de trabalho. Então eu pensei que deveria fazer algo que fizesse mais sentido para mim”, disse. “Eu simplesmente tive de fazer.”
Sonhos podem ser retomados independentemente
Melanie de Castro Pugh é hoje paramédica. Mas por muito tempo foi vendedora e dona de casa. Quando jovem, queria ser médica, mas não conseguiu entrar numa faculdade e resolveu estudar biologia. No meio da sua formação acadêmica (estava fazendo um doutorado), ela foi diagnosticada com diabetes tipo 1. Na época, ela diz, o tratamento para a doença não era tão fácil, o que acabou levando-a a desistir da carreira científica. Nascia ali uma profissional de vendas e futura dona de casa.
A mudança de vida veio com o fim da proibição a pessoas com diabetes de dirigir veículos grandes, como ambulâncias, na Inglaterra. Com o filho crescido, a ex-bióloga decidiu que era hora de realizar seu antigo desejo e começou a estudar para ser paramédica. Aos 47 anos, e fazendo o que sempre quis, ela incentiva mais gente a mudar de vida: “Nunca desista dos seus sonhos só porque a vida, às vezes, coloca alguns obstáculos”.
Vida “devolvida” aos 55 anos
Elizabeth Hepworth tem 72 anos e continua trabalhando com direito. Mas o seu início na advocacia foi tardio. Depois de interromper os estudos por conta de um acidente, ela se dedicou à criação dos filhos e do lar. Quando seu marido a abandonou, por volta de seus 30 anos, ela se viu com a necessidade de trabalhar fora de casa pela primeira vez.
Foi o início para a retomada do sonho de trabalhar com advocacia e se formar na área. “Até hoje me dá um arrepio na espinha quando penso nisso — um sentimento de gratidão pelo fato de o destino ter me devolvido, aos 55 anos, algo que foi tirado de mim” disse.
Ah! E ela tem um recado para quem está na dúvida se esse é o momento de mudar o rumo da vida: “Não considere a idade como uma barreira para fazer qualquer coisa que você sempre sonhou”.