Verdade seja dita: todo mundo já teve aquele sonho marcante e tentou interpretar o que ele queria dizer fazendo buscas sobre um possível significado na internet.
Agora, sabia que a discussão sobre sonhos vai além de uma abordagem filosófica e tem um caráter científico? Sonhar faz bem não somente para consolidar a nossa memória, mas para mostrar sinais de bem-estar, saúde e autoconhecimento.
Embora o consenso científico sobre qual impacto dos sonhos no nosso cotidiano não esteja tão bem definido, existem algumas teorias de que sonhar reflete muito o que estamos vivendo e nos ajuda a processar as emoções que experimentamos ao longo do dia.
Por exemplo, a pesquisadora Rosalind Cartwright – pioneira na ciência dos sonhos e conhecida como “Rainha dos Sonhos” – descobriu que pessoas com depressão apresentam melhoras nos sintomas quando conseguem lembrar o que sonharam na noite passada.
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“Os sonhos refletem o que estamos passando em nosso dia a dia – tanto numa dimensão emocional quanto na dimensão cognitiva”, explica a doutora Silvia Conway, psicóloga do sono e diretora da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS).
Em resumo, se uma pessoa está em um bom momento da vida, os sonhos vão “refletir o bem-estar dela”. Porém, essa característica também vale para os pesadelos. “Se a pessoa vive uma situação de muito estresse, medo e angústia, os sonhos possivelmente serão da mesma grandeza emocional”, ressalta Conway.
O que é sonho lúcido?
Além de acordar e saber que sonhou com algo na noite passada, há pessoas que – durante o sono – sabem que estão sonhando e conseguem até mesmo controlar as ações dentro dele. Parece até aquele filme A origem, de Christopher Nolan, mas isso tem um nome: sonho lúcido.
Geralmente são sonhos que acontecem na etapa REM do sono (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos) e, apesar de não acontecer com frequência, 75% dos brasileiros já tiveram ao menos um sonho lúcido, como aponta a tese de doutorado do professor Sérgio Arthuro Mota-Rolim, neurocientista e pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Assim como lembrar dos sonhos, há benefícios de bem-estar e qualidade de vida trazidos pelos sonhos lúcidos! Um artigo do site WebMD – que reúne especialistas de diversas áreas da medicina – mostra que, ao tê-los, uma pessoa acordada pode ter:
- Menos ansiedade, porque controlar o sonho pode servir como terapia.
- Melhores habilidades motoras com ações mais simples, como bater os dedos com mais agilidade.
- Melhor resolução de problemas, por usar a criatividade e não a lógica.
- Maior criatividade, por ter novas ideias ao usar os personagens de seus sonhos.
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Compreendendo os sinais dos sonhos
Lembrar o sonho – seja ele bom ou ruim – vai nos ajudar a estar em contato com nossos processos internos cognitivos e emocionais, ajudando, assim, a organizar nossa vida. Quando temos pesadelos recorrentes, podemos achar que está relacionado ao que vivemos em determinado dia, mas ele pode dizer muito mais do que isso.
Como destaca a doutora Paula Araújo, bióloga do sono, é preciso prestar atenção em como despertamos após um pesadelo e como ele repercute em nossa vida. “Quando recorrentes, os pesadelos podem desencadear estresse excessivo, ansiedade, evitação do momento de dormir, sonolência diurna e fadiga”, comenta.
Se os sonhos bons têm um papel de fixar o que aprendemos ao longo do dia, de nos revelar percepções e de promover autoconhecimento, os pesadelos podem ser encarados como sinais de que uma intervenção precisa ser feita. “Quanto melhor a pessoa vive, melhor ela dorme e melhor ela pode sonhar, no sentido de que os sonhos podem ser mais leves, mais reveladores”, explica Conway, a “Rainha do Sono”.
Por isso, lembrar os sonhos pode ser relevante para nos mostrar que é preciso mudar alguns hábitos para termos melhor qualidade de vida e bem-estar. Apesar de manter essa lembrança ser um desafio, aqui vai uma curiosidade: o mais importante não é a quantidade de horas dormidas, mas saber como valorizar o que estamos sonhando.
Como lidar com os sonhos?
A dica, então, é respeitar os sonhos e vivê-los como um espaço também de revelação de nós mesmos e de autoconhecimento. E isso deve ser visto como um exercício diário para que, com o tempo, sejamos capazes de lembrar o que sonhamos. Para começar, a sugestão de Conway é não sair logo da cama ao acordar, ou seja, não entrar logo em estágio de vigília.
“Esse momento em que você acabou de sair do sono e está despertando é um momento em que o cérebro ainda está imerso em neurotransmissores associados ao sono. [Não acordar rapidamente] é como se você estivesse em uma condição de consciência dupla – a consciência onírica (do sonho) e a consciência da vigília. Essa condição oferece a oportunidade de maior intimidade com o que você sonhou e de se observar naquele conteúdo onírico.
Os diferentes estágios do sono
O ciclo do sono possui duas grandes fases: o sono não REM (non-rapid eye moviment) e o sono REM (rapid eye moviment).
O sono não REM tem três estágios:
- N1 (leve)
Momento mais superficial – em que a pessoa começa a pegar no sono. Aqui os sonhos podem acontecer.
- N2 (leve)
O corpo da pessoa está mais relaxado, mas a mente ainda está um pouco em alerta. Os sonhos aqui também podem ocorrer.
- N3 (profundo)
O corpo está mais relaxado e, apesar de não existir sonhos nessa fase, ela é importante para a manutenção do corpo.
Sobre o sono REM:
É um período em que os olhos se movimentam muito rápido e há um aumento dos batimentos cardíacos, fazendo surgir os sonhos. É no sono REM também que uma pessoa pode apresentar um comportamento sonâmbulo. A cada ciclo, o sono REM pode ter uma duração maior.
- De 75% a 80%
é o tanto que o sono NREM
ocupa uma noite de sono
- Já o sono REM
ocupa entre 20% e 25%
Dicionário do sono
- Sono NREM: período do sono em que há baixa frequência cardíaca e respiratória. Inclui os três primeiros estágios do sono.
- Sono REM: é a fase em que as atividades cerebrais para a memória e o aprendizado trabalham em maior frequência.
- Vigília: quando uma pessoa está despertada ou acordada – período de transição com a fase 1 do ciclo de sono.
- Atividade onírica: quando o cérebro processa e seleciona as lembranças originadas no momento de vigília.
- Pesadelos: são sonhos, mas com algum tipo de conteúdo emocionalmente negativo.
- Sonambulismo: ocorre quando os estados de consciência da vigília e do sono NREM se misturam.
- Paralisia do sono: é quando o cérebro acorda, mas a pessoa não consegue se mover porque há um atraso na ativação dos sistemas centrais que controlam a musculatura.
Fonte: Associação Brasileira de Medicina do Sono