Na noite do dia 25 de abril, quase início da madrugada do dia seguinte no País de Gales, o britânico Anthony Hopkins, de 83 anos, se tornou a pessoa mais velha a receber o principal prêmio do cinema por uma atuação (veja os recordistas no fim do texto).
O ator estava dormindo no momento do prêmio e só conseguiu agradecer no dia seguinte, em sua conta no Instagram: “Aos 83 anos, eu não esperava receber esse prêmio, não mesmo. Então, eu me sinto muito privilegiado e honrado. Obrigado”. Esse é o segundo prêmio de Hopkins (o outro foi em 1992, quando ele tinha 55 anos).
Hopkins recebeu o prêmio pela sua atuação em “Meu Pai”. O filme retrata a vida do personagem Anthony (sim, igual ao nome do ator) quando ele começa a sofrer com a perda de memória e a demência — embora não cite, a obra retrata comportamentos característicos da Doença de Alzheimer.
Além do prêmio de melhor ator, “Meu Pai” venceu também a categoria de melhor roteiro adaptado. O filme concorreu ainda a outras quatro categorias: melhor atriz coadjuvante, com Olivia Colman (venceu Youn Yuh-jung, por “Minari), melhor filme (venceu “Nomadland”), melhor edição (venceu “O som do silêncio) e melhor design de produção (venceu “Mank”).
Veja o trailer do filme aqui. “Meu Pai” pode ser alugado e/ou comprado no Now (para assinantes do serviço) ou no YouTube Filmes.
Uma curiosidade antes de prosseguirmos. “Meu Pai” é inspirado na peça de teatro escrita pelo diretor do filme, o dramaturgo francês Florian Zeller. Aqui no Brasil, ela foi encenada em 2016 e teve o ator Fulvio Stefanini no papel interpretado por Hopkins (veja aqui a entrevista que o brasileiro deu para a Rede TV explicando o personagem).
E por que o ator ganhou o prêmio? Segundo esta crítica do G1, porque “seja na forma de falar, nos gestos e, principalmente no olhar, Hopkins transmite uma assombrosa verdade com o seu personagem”.
“Meu Pai” mostra, a partir de dois pontos de vista, o processo “sem volta na trilha da demência”, como escreve a jornalista Mariza Tavares no blog Longevidade Modo de Usar.
É como estar dentro da mente de uma pessoa que sofre com os efeitos da demência e presenciar a confusão mental que aflige a vida do personagem vivido por Hopkins, como diz esta outra crítica, do UOL. Vemos a confusão do personagem com seus pensamentos, acontecimentos e na relação com seus entes queridos.
É aí que surge o outro ponto de vista, o de quem cuida. No caso Anne, a filha de Anthony, interpretada pela atriz Olivia Colman (indicada à categoria atriz coadjuvante). Como diz a crítica do G1, ela “mostra muito bem o carinho que Anne sente pelo pai, ao mesmo tempo em que se angustia pela sensação de que está invertendo seu papel na relação com ele”. Um sentimento comum aos filhos quando os pais têm de enfrentar uma doença grave.
Não é um filme “fácil”, mas essencial para quem busca entender, encontrar forças e, por que não, se reconhecer no difícil processo de evolução da demência de pessoas queridas.
Para ler mais (sobre a vida de Hopkins, o filme e a Doença de Alzheimer):
>> Conheça um pouco da história de Anthony Hopkins, a pessoa mais velha a receber a principal premiação do cinema por uma atuação. (El País)
>> Como a arquitetura do apartamento em que se passa o filme Meu Pai constrói a história do filme. (Casa e Jardim)
>> Como Florian Heller, Olivia Colman e Anthony Hopkins conseguiram mostrar com tanta eficiência e sensibilidade o efeito de “esgotamento” da lucidez. (El País)
>> As estratégias para lidar com o tipo de comportamento representado por Anthony Hopkins no filme “Meu Pai” (Longevidade: Modo de usar)
Atores e atrizes mais velhos a receberem o prêmio mais disputadas do cinema
Anthony Hopkins – 83 anos
Ator principal no filme “Meu Pai” (2020)
Christopher Plummer - 82 anos
Ator coadjuvante no filme “Toda Forma de Amor” (2010)
Jessica Tandy – 80 anos
Atriz principal no filme “Conduzindo Miss Daisy” (1989)
Peggy Ashcroft – 77 anos
Atriz coadjuvante no filme “Passagem para a Índia” (1984)
A pessoas mais velha a ser premiada é mulher e figurinista
A pessoa mais velha a receber o prêmio mais importante do cinema é Ann Roth, de 89 anos. A figurinista venceu nesse ano a categoria melhor figurino por seu trabalho no filme “A Voz Suprema do Blues” (2020). Assim como Hopkins, ela é bicampeã (o outro prêmio foi em 1997).